Jorge Amado tinha apenas 18 anos quando estreou no mercado editorial brasileiro, em 1931. ‘O país do Carnaval’, sua primeira publicação solo, saiu com uma tiragem de mil exemplares já na primeira edição.
O livro teve uma boa aceitação da crítica e foi "o menos atacado" de seus escritos, como ele mesmo brincou em entrevista ao Literatura Comentada, na ocasião do aniversário dos 50 anos da publicação.
Apesar da boa fama que a obra trouxe, a jornalista Joselia Aguiar, autora de “Jorge Amado - Uma Biografia” (Todavia, 2018), pontua sua eterna resistência em relação ao livro.
“É seu livro de estreia, mas ele considerava os dois romances posteriores, Cacau e Suor, aqueles que marcam a gênese de sua literatura. Durante muitos anos Jorge Amado não quis publicá-lo no exterior, por considerar que ‘O País do Carnaval’ não o representava sua visão de mundo”, diz a biógrafa.
Joselia narra uma curiosidade sobre quem, na vida real, teria inspirado o personagem Paulo Rigger, figura central da obra e que movimenta a trama.
“Não apenas eu, outras pessoas antes de mim imaginam que o Paul Rigger seria o Paulo Prado, intelectual paulista que foi um dos patrocinadores da Semana de 22 e defendia a tese de que o brasileiro era triste, e que o Carnaval era um sintoma de degeneração”, pontua.
Namoro com o PCB
Doutor em literatura comparada e membro da Academia de Letras da Bahia (ALB), Nelson Cerqueira analisa ‘O país do Carnaval’ como uma obra que já demonstra as referências literárias e as teses que povoavam a cabeça escritor baiano no período.
“Não se deve pensar que, apesar da idade, Jorge Amado era um iniciante. Ele possuía sólidas leituras de textos e conceitos teóricos como os de Gorky e Michail Bakhtin, sobretudo sobre o papel do folclore para a escrita literária, além de estar ligado no movimento com Gilberto Freyre, Lins do Rego e Graciliano Ramos”, aponta.
Autor de dois livros sobre Jorge, Cerqueira analisa ainda o início do namoro entre o jovem autor e as teses comunistas, que mais tarde iriam resultar em seu ingresso no Partido Comunista Brasileiro (PCB). “O país do Carnaval nasce desses conflitos, da vida estudantil de Amado no Colégio Ipiranga e das primeiras experiências com o partido de Luís Carlos Prestes, presente já narrativa”.
Texto publicado originalmente no Jornal da Metrópole