“Embora exista uma grande quantidade de evidências que apoiem os benefícios para a saúde gerada pela atividade física, não temos dados precisos quanto ao tipo de exercício que um indivíduo precisa fazer para ter um condicionamento físico mais elevado, principalmente na população em geral, ao contrário de atletas ou indivíduos com problemas médicos específicos. Nosso estudo foi elaborado para preencher essa lacuna”, afirma, em comunicado, Matthew Nayor, professor-assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo.
A equipe avaliou dados de participantes da iniciativa Framingham Heart Study, um estudo científico a longo prazo sobre o sistema cardiovascular, iniciado no fim da década de 1940. “Analisamos dados de voluntários da terceira geração dessa investigação, literalmente os netos dos participantes originais, em muitos casos”, detalha Nayor. O grupo foi avaliado entre 2016 a 2019, período em que foram submetidos periodicamente a exames médicos diversos, principalmente testes de exercício cardiopulmonar (TECP), que ajudam a medir o condicionamento físico com mais precisão.
As análises mostraram que sessões de exercícios moderados a vigorosos feitos com frequência melhoraram significativamente a aptidão física, em comparação a atividades mais leves, como dar 10 mil passos ao longo de um dia. “Nós já esperávamos descobrir que a prática de atividade física mais intensa levaria a um melhor desempenho de ‘pico do exercício’, ou seja, na capacidade de realizar tarefas mais intensas, mas ficamos surpresos ao ver que esses exercícios também eram mais eficientes do que as caminhadas ao preparar o corpo para atividades de mais baixo esforço”, detalha.
Nayor explica que os participantes que registraram um número maior de passos dados por dia tinham desempenho físico melhor que os sedentários, o que mostra ganhos dessa atividade menos intensa para a saúde. Mas o estudo também mostra que caminhar é um hábito que deve ser combinado com a prática física intensa ou moderada para gerar resultados significativos à resistência do corpo.
“Há ampla evidência de outros estudos de que contagens mais altas de passos estão associadas a uma série de benefícios à saúde, o que é positivo principalmente para idosos, que não conseguem realizar tanto esforço. No entanto, se seu objetivo é melhorar o nível de condicionamento físico ou desacelerar o declínio inevitável da resistência física que ocorre com o envelhecimento, realizar pelo menos uma atividade de esforço moderada é algo três vezes mais eficiente do que apenas caminhar em uma cadência relativamente baixa”, enfatiza.
Segundo o pesquisador, os resultados podem ser usados pela população de forma benéfica. “Estabelecer o que cada uma dessas atividades físicas habituais é capaz de fazer pelo condicionamento físico (…) pode servir como um incentivo para as pessoas serem ainda mais ativas”, justifica Nayor.
Prepare-se
Luciano Lourenço, clínico geral do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e especialista em medicina do esporte, avalia que os dados do estudo americano confirmam descobertas recentes relacionadas aos benefícios de práticas esportivas mais intensas. “Temos alguns estudos que já nos mostraram como essas atividades geram ganhos maiores à atividade muscular e à saúde cardiovascular. Esses benefícios acabam dando uma resistência mais expressiva ao organismo e à saúde como um todo”, afirma.
O médico lembra que é preciso estar apto a realizar as atividades de esforço moderado a alto. “Não é indicado que uma pessoa sedentária já levante do sofá e comece a correr intensamente ou a nadar por mais de meia hora. Isso pode gerar danos, principalmente se ela já tiver uma lesão ou um problema de saúde mais sério. É importante dar esse alerta para evitar prejuízos à saúde em vez de ganhos”, adverte.
Lourenço orienta que a melhor saída é aumentar aos poucos a rotina de atividades físicas. “O corpo humano é uma máquina que se adapta muito rapidamente. Você pode pegar uma pessoa totalmente sedentária e, com um treinamento adequado, transformar o corpo dela em seis meses. Mas tudo precisa ser feito com cuidado e com a orientação de um especialista. É ele quem vai te dizer o que é melhor para a sua situação.” Fonte: Correio Braziliense.